Popularmente conhecida como pressão alta, a hipertensão arterial (HA) é, de forma resumida, uma doença caracterizada por níveis elevados, constantes e recorrentes da pressão sanguínea nas artérias, isto é, um aumento dos níveis da pressão sistólica (contração do coração) máxima e pressão diastólica (relaxamento entre um batimento cardíaco e outro) mínima.

Trata-se de uma doença não transmissível, crônica e de longo prazo, ou seja, na maioria dos casos, os danos ocorrem com o tempo. A HA pode, por exemplo, danificar os vasos sanguíneos e provocar lesões graves no coração, cérebro, rins, membros e outras artérias do corpo. Por conta da elevada incidência e dificuldade de controle, a hipertensão é considerada mundialmente um problema de saúde pública.

No Brasil, segundo dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2023, cerca de 28% das pessoas no país têm a condição. Por isso, esclarecer questões envolvendo a doença é de suma importância. Vejamos a seguir algumas das principais dúvidas:

1 - Quando uma pessoa é considerada hipertensa?

Em condições normais, o índice da pressão arterial deve permanecer em 120/80 mmHg (lemos "12 por 8"). Quadros de pré-hipertensão são definidos por uma pressão sistólica entre 130 e 139 mmHg e diastólica entre 85 e 89 mmHg.

No caso da hipertensão, temos uma pressão arterial maior ou igual a 140/90 mmHg, mantida por várias medições, de forma persistente, realizadas em dias distintos. Se os números registrados forem ainda maiores, é possível que o indivíduo esteja enfrentando uma crise hipertensiva, com a necessidade de atendimento de emergência.

2 - O que causa a elevação dos níveis da pressão arterial?

As causas exatas da HA não estão completamente esclarecidas. O que sabemos é que vários fatores interferem no aumento da pressão, como tabagismo, excesso de peso e obesidade, pré-diabetes e diabetes, sedentarismo, muito sal (sódio) na alimentação, consumo de álcool, estresse crônico, idade avançada, doença renal, distúrbios adrenais, da tireoide e do sono.  

Também podem interferir nos índices, variações de temperaturas (clima muito frio, por exemplo), alguns medicamentos (entre eles os anti-inflamatórios, corticoides e emagrecedores) e até o chamado efeito do avental ou jaleco branco (a pressão fica mais alta no momento da aferição no consultório). E o quadro ganha mais gravidade quando há uma combinação desses fatores de risco.

No entanto, é preciso esclarecer: uma medida de pressão elevada, isolada, não quer dizer nada. A pressão arterial não é constante. Quando dormimos, ela tende a baixar. Já em momentos de emoções intensas, como numa partida de futebol, um susto ou situação inesperada, o organismo reage e pode fazer com que a pressão suba. Diante dessas circunstâncias, ao medir, provavelmente o número será maior do que o normal, mas isso não representa necessariamente um quadro de hipertensão.

3 - A hipertensão afeta apenas adultos, especialmente, idosos?

Como mencionado, a idade é uma das condições para aparecimento da HA, mas existe a possibilidade do desenvolvimento da doença em pessoas mais jovens. A hipertensão não poupa sequer crianças e adolescentes. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, a estimativa é que a prevalência de hipertensos na população pediátrica varie de 3% a 15%. E os números estão em crescimento, particularmente devido ao aumento entre o público jovem de indivíduos com excesso de peso e obesidade.

Sem os cuidados necessários, o cenário se transforma em uma bola de neve. Isso porque, de acordo com pesquisas, a elevação da pressão arterial na infância e adolescência representa um fator de risco para que a enfermidade se manifeste ou se agrave mais tarde, na vida adulta.

Para crianças até 13 anos, os critérios do diagnóstico da HA se baseiam em tabelas obtidas a partir da média dos níveis de pressão apresentados por milhares de indivíduos, ou seja, usando a comparação (valores normativos). Desta forma, uma criança é considerada hipertensa quando apresenta pressão máxima ou mínima acima de 95% em relação às outras do mesmo sexo, idade e altura. Quando esses níveis ficam na faixa dos 90% a 95%, classifica-se como pré-hipertensão. Abaixo de 90% indica pressão normal (acima dos 13 anos, os valores são os mesmos dos adultos, já apresentados acima).

4 - Podemos nascer com pressão alta?

A hipertensão arterial também tem predisposição genética, isto é, há uma tendência de ser transmitida de geração em geração. Estatísticas apontam que ter parentes de primeiro grau, como pais ou irmãos, com hipertensão aumenta o risco de uma pessoa desenvolver a condição.

Estudos revelam que se os pais apresentam HA há possibilidade de 60% que seus filhos adquiram a doença ao longo da vida. Caso apenas um dos pais apresentem HA esse índice cai para 25%. No entanto, histórico familiar não é a única razão.

Anormalidades e malformações congênitas renais ou cardíacas, bebês que apresentam peso baixo ao nascer (especialmente menos de 1,5 kg), prematuros (inferior a 32 semanas) ou que permaneceram internados em UTI Neonatal por tempo prolongado têm mais chances de desenvolver a hipertensão arterial sistêmica na infância.

Medicação para hipertensão, um esfigmomanômetro e exames médicos em segundo plano. Imagem para ilustrar a matéria sobre 10 dúvidas frequentes sobre a hipertensão. Crédito: RHJPhtotos/Shutterstock

5 - A hipertensão é mais comum em homens ou mulheres?

Registros da prevalência global de HA aponta que o sexo não é um ponto determinante. Entretanto, as estimativas sugerem taxas de pressão mais elevadas para homens até os 50 anos e para mulheres a partir da sexta década da vida.

No caso do sexo feminino, é preciso destacar as mudanças trazidas com a chegada da menopausa, quando ocorre a diminuição da produção do estrógeno. O hormônio tem efeito positivo sobre a parede arterial e, consequentemente, é considerado um aliado do coração. Quando os níveis de estrógeno diminuem, o coração e os vasos sanguíneos passam a ficar mais rígidos, o que também pode interferir na pressão arterial, que tende a subir.

6 - Quais são as consequências da hipertensão para a saúde cardiovascular?

A pressão arterial alta demanda do coração um trabalho adicional na distribuição de sangue. O órgão precisa fazer mais força para manter uma circulação eficiente. O quadro, especialmente quando se torna constante, faz com que os vasos sanguíneos fiquem mais rígidos, perdendo sua elasticidade.

Ao longo do tempo, se nada for feito, a condição leva a uma sobrecarga para todo sistema circulatório, para os rins (que precisam filtrar o sangue) e para o cérebro.  

Podem ocorrer alterações na contração e relaxamento do músculo cardíaco, aterosclerose (endurecimento dos vasos) ou ainda lesões na camada interna das artérias (o endotélio), o que pode levar à sua ruptura, induzindo a formação da doença obstrutiva das artérias coronárias e das artérias periféricas, responsáveis pelo infarto do miocárdio e do acidente vascular cerebral (AVC).

Outros possíveis danos: a hipertrofia do ventrículo esquerdo, cenário que pode evoluir para uma insuficiência cardíaca e arritmias; dilatação da aorta, causando o aparecimento de aneurismas, a doença renal crônica e até morte súbita.

7 - A hipertensão pode ser assintomática?

Segundo pesquisas, a mortalidade por questões cardíacas em adultos com menos de 55 anos tem sido atribuída a níveis elevados de pressão que se mantém desde a infância ou adolescência. Um agravante é que pelo menos metade dos hipertensos não sabem que têm a doença. Isso porque na maioria dos casos, a HA surge sem causar alarde, agindo de forma silenciosa. Se a pessoa não vai ao médico ou não tem o costume de fazer exames de rotina, a hipertensão pode permanecer sem o diagnóstico.  

Os indícios geralmente se manifestam, apenas, quando a pressão é muito superior à normal. Entre os mais comuns, estão: dor de cabeça (especialmente na nuca), enjoos, tonturas, edemas, cansaço repentino, visão embaçada, sangramento nasal, dificuldade para respirar, palpitações e dor no peito (angina) – facilmente confundidos, inclusive, com outros problemas de saúde. Por isso, fica o alerta: não se pode confiar na ausência de sintomas!

8 - A hipertensão piora depois dos 60 anos?

O fato é que, apesar de atingir indivíduos em qualquer fase da vida, a prevalência e gravidade do problema tendem a aumentar com o tempo. De acordo com a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP), a doença atinge mais de 60% dos idosos no Brasil. E isso por uma série de aspectos.

O envelhecimento provoca alterações estruturais e funcionais nas artérias. Essa combinação de mudanças refletem o endurecimento e redução da elasticidade desses vasos sanguíneos. Com isso, tanto pressão arterial sistólica (PAS) como pressão arterial diastólica (PAD) aumentam com a idade. A PAS aumenta progressivamente até 70 ou 80 anos, enquanto a PAD até 50 ou 60 anos e depois tende a nivelar ou até a diminuir ligeiramente.

Outro fator que interfere são as transformações enfrentadas pelos rins com o avanço da idade. Podemos dizer que há um declínio da função renal, o que gera dificuldade do indivíduo em eliminar o sal. O órgão passa então a apresentar sensibilidade à substância, provocando a vasoconstrição e uma maior resistência vascular. Isso se torna um ciclo vicioso, no qual a pressão elevada prejudica os rins e os rins contribuem para o aumento da pressão.

9 - Basta retirar o excesso de sal da comida para a pressão normalizar?

O problema do consumo exagerado de sódio é a tendência no aumento da absorção de água pelos tecidos, o que gera uma sensação de sede, por conta da desidratação do organismo, e faz com que a pessoa beba mais água. Com isso, o volume de sangue circulante será maior, elevando também a pressão. O resultado, como dito anteriormente, é o aumento de trabalho do coração.

Se essa atividade extra se torna recorrente pode gerar danos sérios e prejudicar o desempenho do órgão, comprometendo a saúde de todo o sistema cardiovascular. Por isso, no geral, a recomendação é até 5 gramas de sal por dia ou uma colher de chá (2 gramas de sódio) - sem esquecer que o sal está presente em boa parte dos alimentos processados e industrializados. No entanto, vale reforçar que não basta só diminuir o sal para garantir níveis de pressão normais. Tal atitude é benéfica, mas o quadro depende de outras ações - que veremos a seguir.

10 - É possível curar a hipertensão?

A hipertensão não tem cura, mas é passível de controle. Indivíduos que administram a pressão alta podem reduzir bastante os riscos e suas possíveis consequências. Em muitos casos, ela pode ser controlada apenas com mudanças na rotina e a adoção de um estilo de vida mais saudável. Isso inclui manutenção do peso, refeições com menos gorduras e sal, evitar o álcool, não fumar, além de um programa regular de exercícios físicos. Há quem precise de medicamentos, que devem ser indicados e monitorados por um especialista após avaliação para atender as necessidades específicas de cada um.

Já ouviu falar em hipertensão arterial resistente (HAR)?

O paciente toma remédios, mudou a dieta, inseriu atividades na rotina, segue todas as orientações passadas e mesmo assim a pressão continua alta. Saiba que isso pode acontecer! Trata-se da hipertensão arterial resistente (HAR), uma doença definida, como o próprio nome já diz, por uma pressão arterial acima das metas recomendadas.

O quadro, geralmente, afeta quem tem altos índices de pressão sem controle por muito tempo, problemas no coração e rins, histórico familiar, sofre de estresse crônico, diabetes, obesidade, fuma, é sedentário, exagera na ingestão de alimentos ultraprocessados, consome muito sal ou álcool. Além disso, entre as características predominantes nos pacientes com HAR estão a idade avançada e a hipertrofia ventricular esquerda – uma resposta adaptativa à hipertensão, que se caracteriza pelo aumento da musculatura do ventrículo esquerdo do coração.

Atenção: a HAR não deve ser confundida com uma pseudorresistência, ou seja, aquela que ocorre quando um indivíduo não adere ao tratamento indicado, quando é aplicada uma técnica inadequada de aferição da pressão, se há prescrição de doses insuficientes de medicamentos, entre outros motivos.

A importância do diagnóstico precoce e correto

Como explicado, uma medida isolada com valores alterados não é suficiente para determinar um quadro de hipertensão arterial. Por isso, para garantir que não haja distorções, o diagnóstico deve ser feito a partir de um exame minucioso, avaliando histórico familiar e clínico do paciente, análise de possíveis sinais e sintomas, além de aferições em dias e momentos diferentes para comprovação.

É essencial identificar e tratar a hipertensão o quanto antes. O diagnóstico precoce e a introdução imediata do tratamento são fundamentais para evitar complicações e consequências associadas à doença no futuro. As estratégias de controle devem considerar o grau de fragilidade, comorbidades e fatores psicossociais e, portanto, são individualizadas. Além disso, é fundamental manter a rotina de exames e o acompanhamento médico, assim como o monitoramento da pressão com regularidade, especialmente para aqueles que apresentam fatores de risco ou já têm o diagnóstico da condição.


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